quinta-feira, 11 de dezembro de 2008


Escrevo-te porque não me podes ouvir, não te encontras ao meu lado para que o possa fazer em voz baixa ao teu ouvido.

Dizem que a solidão é estar entre milhares de pessoas e sentir a ausência de apenas uma. Encontro-me, neste momento, numa sala semi-vazia, com dezasseis pessoas que trocam palavras entre si, animadas. Seríamos dezassete se eu cá estivesse, mas não estou. Estou ausente de mim e do mundo que gira à minha volta. Olho pela janela e pego no telemóvel, como que instintivamente, para ver as horas. No ecrã, vejo apenas as horas, não se lê a habitual frase "uma mensagem recebida". Não, não foi o seu vibrar que me levou a mão ao bolso, foram somente as horas, nada mais que isso. Olho novamente pela janela que se encontra à minha esquerda, o céu apresenta-se em tons cinzentos, enquanto o sol brinca às escondidas com as nuvens. Eu, aqui neste lugar, encontro-me semi-vazia como a sala, cinzenta como o céu e a brincar às escondidas contigo, e comigo. Escondo-me dos pensamentos que me enchem a cabeça e esvaziam o coração. A ti, escondo o que penso, o que sinto, o que sou… podia evitar esta interiorização mas não, não consigo. Não me isolo em ti porque não posso nem me isolo de ti porque não quero. Tenho este defeito, chamo-lhe feitio, característica incontrolável do meu ser. Chove lá fora, chove também dentro de mim, enquanto ouço risos de fundo. Estou completamente away, não ouvi sequer a piada, nem parece meu. O sentimento que por ti nutro não parece meu, nada disto parece meu no fundo. Não preciso de te amar perdidamente para te querer junto a mim, não preciso de te sentir para te desejar a todo o momento, não preciso de (mais) nada, só de ti. Não preciso destes pensamentos tão cheios de ti e do que sinto, simplesmente, não preciso. Sinto-te a cada passo que dou, ouço-te em cada esquina que cruzo e falo-te a cada sonho meu, noite após noite, desde aquele dia. O dia em que te olhei pela primeira vez e o meu coração acelerou como se não houvesse amanhã e me fosse pular do peito, algo nasceu, ali mesmo, naquele local.


Gi, 12:37 am